domingo, 7 de maio de 2017

Narrativa (Entrevista) Que leitor a escola me formou?


   
     A pessoa que eu escolhi para entrevistar foi o Sr. Robisval, 53 anos, ex- funcionário público, policial militar (aposentado) e atualmente supervisor de segurança. 

     Escolhi entrevistá-lo, pois me chama atenção que, diferentemente das pessoas que tenho proximidade, ele habitualmente expressa-se muito bem. Essa característica me fez supor que sua formação escolar foi muito boa e que o mesmo teria bastante afinidade com a leitura.

    Pode ser que eu tenha me enganado um pouquinho...

     Iniciei a entrevista, indagando-lhe sobre como foi sua experiência escolar. Quando lhe perguntei se gostava de estudar, tive logo uma surpresa. De bate - pronto um “Não” (mais adiante saberemos o porquê). Sobre as matérias que gostava, respondeu: Geografia, História, Ciências e uma tal de “Moral e Civismo”(da qual nunca ouvi falar), e que não simpatizava muito com: Física, Matemática e Química (culpa dos números, também os odeio).
     Falou-me que no seu tempo, a escola era muito rígida, existia muita cobrança e talvez devido a isso que o mesmo não gostava de estudar. Segundo ele o professor “passava e cobrava”, somente.
     Perguntei-lhe sobre como via a escola nos dia de hoje. Ele classificou como: “moderna” e falou que achava que existia um bom relacionamento entre aluno e professor.
     Como ele me falou que concluiu o ensino médio, lhe indaguei sobre a possibilidade de um curso superior. Ele me respondeu que tem muita vontade de cursar Direito. Por ter trabalhado por muitos anos como funcionário público e na área militar, tem bastante admiração pelo universo jurídico. Inclusive comentou que esse ano fará a prova ENEM (Exame nacional do ensino) justamente para tentar vaga nesse curso.
     Perguntei-lhe sobre sua proximidade com a leitura. Novamente fiquei surpreso, pois me respondeu que lia muito pouco, quase nada. Que não havia incentivo a prática literária e as aulas de Português limitavam-se a ensinar situações gráficas e vícios de linguagem (a boa e velha Gramática).
     Falou que não se recordava de ter lido nenhum livro por completo, mas tinha muita vontade de ler Maquiavel. Segundo ele, um antigo superior hierárquico orientava seus subordinados de forma magistral, tomando como base a filosofia de Maquiavel. Essa experiência fez nele surgir admiração e interesse por suas obras.
     Por fim indaguei-lhe sobre a importância da leitura (em sua opinião). Ele me falou que se antigamente o ensino guiasse o aluno para os caminhos da leitura, a população de seu tempo teria outra visão de mundo; que lendo, se aprende tudo; e quem não lê, não sabe de nada.


     Depois desse relato é possível afirmar que a experiência que o Sr. Robisval teve nos seus dias de escola, não foi muito boa. A Escola mudou muito ao longo dos anos, mais continua pecando quando o assunto é formar “leitores”.
     Hoje o Sr. Robisval se expressa muito bem e não perdeu o interesse por aprender – acredito que devido a sua proximidade e gosto pelas áreas burocráticas -. Porém, os rígidos sistemas de ensino da sua época colocaram uma enorme barreira entre ele e o universo literário.










Entrevista:

Qual a idade do Sr.?
53.

Nome completo?
Robisval Gomes Ferreira.

O Sr. Estudou até que série?
Ensino médio completo.

O senhor gostava de estudar?
Não.

Não?
Não.

Qual a matéria que o Sr. mais gostava?
Várias matérias, Geografia, História, Ciências. E no meu tempo, Moral e Civismo.

Moral e Civismo era o quê?
Era falando sobre a política brasileira.

O senhor gostava dessa matéria?
Adorava.

A matéria que o Sr. menos gostava?
Física, Matemática e Química.

Por causa dos números?
Exatamente.

O Sr. fez algum curso superior?
Não.

Tem vontade de fazer?
Sim.

Qual o curso?
Direito.

Direito? Por quê?
É uma área que eu sempre me relacionei muito bem. Eu na época que era funcionário público do estado, fiz várias situações onde era necessário estudar Direito, Direito penal e Direito civil. Me identifiquei bastante com essa matéria e em cima disso, ainda existe em mim um desejo de fazer Direito criminalístico.

Como era a escola na sua época?
Era muito rígida. No tempo a escola era muito rígida e talvez hoje, eu vou falar pra você, que eu não gostava de estudar em virtude da rigidez da época, porque na época existia muita cobrança, como hoje não existe.

Os professores de sua época de escola lhe davam a opção poder formular e expor suas opiniões? Ou o Sr. achava que a escola mandava simplesmente decorar e reproduzir?
Não, não tinha essa flexibilização (flexibilidade) não. Naquele tempo ele passava e cobrava.

Como o Sr. vê a escola hoje em dia?
É uma escola mais moderna né? Aonde existe um bom relacionamento entre aluno e professor.

Mas o Sr. acha que essa modernidade... Essa “moleza”. É melhor para a formação do ser humano? O indivíduo como homem? O Sr. não acha que a rigidez de antigamente ajudou? Ou não?
É, isso aí é uma via de mão dupla. A rigidez naquele tempo era porque o professor forçava o aluno a aprender e hoje em dia, os professores deixam o aluno aprender espontaneamente.

O aluno da sua época? O Sr. como aluno? Tinha respeito pelo professor ou tinha medo? Ou os dois?
Não, eles não tinham medo. Era puro respeito. Naquele tempo era respeito ao mestrado (mestre) mesmo.

Educação? Vem de casa? Ou é papel do professor educar?
Toda vida eu pensei e penso, que a educação, no inicio é de casa.

As boas maneiras?
Com certeza.

Em relação à leitura... O Sr. Gosta de ler?
Pouco.

O Sr. já leu algum livro?
Não. Eu sempre tive vontade de ler Maquiavel.

Porque não leu? O que é que lhe impede?
Paciência... Paciência.

No tempo de escola, o Sr. lembra se já leu algum livro? Por inteiro?
Não, não me recordo.

O Sr. acha que sua falta de incentivo para ler, teve relação com o ensino que teve?  Que os professores não passavam a matéria, de forma que o Sr. sentisse interesse? Ou o Sr. realmente era desinteressado? Ou era a rigidez? Faltou uma abordagem diferente do professor, que fizesse o Sr. se encantar por aquilo?
Na verdade, você esta correto nessa sua narrativa. Naquele tempo não havia uma dinâmica de fazer com que o aluno gostasse de ler. Até mesmo na matéria de português, não existia esse incentivo para que o aluno estudasse. Existia o incentivo para que o aluno viesse aprender: situação gráfica, vício de linguagem, essas coisas.

Livros literários?
Não.

Machado de Assis? Poesias?
Não, não... Nada.

O Sr. citou “Maquiavel”. O Sr. tem vontade de ler Maquiavel porquê? Ouviu alguém falar? Ouviu alguma citação e achou bonito?
Não. Isso aí é uma coisa que: num antigo trabalho eu tive um superior hierárquico, que recebia os seus subordinados, e tratava-os só com palavras; sem machucar; sem apertar. Mas em cima do que ele leu no livro de Maquiavel, ele fazia com que os seus subordinados, levassem uma lapada sem levar tapa nenhum.

O Sr. acha que é importante ler? Por quê?
Olha, vou dizer uma coisa a você. Se naquele tempo a 40, 45 anos atrás, se o ensino tivesse proporcionado ao aluno, gostar de ler. Talvez hoje a população do meu tempo tivesse outra visão de mundo. A leitura é a parte principal de qualquer atividade de um aluno. Através de ler é que você aprende tudo.

E o que o Sr. acha do indivíduo que não lê?
Não sabe de nada.




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